quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Os tão falados livros para meninos e meninas


Já que anda toda a gente a falar dos livros da Porto Editora para meninos e para meninas e eles até foram postos de novo à venda e este blog até é meu e eu posso dizer o que eu quiser, aproveito para dizer que sou contra esses livros. Não analisei os livros nem preciso de analisar para ser contra eles. Nem que o conteúdo fosse exactamente igual e as capas fossem diferentes, sendo azul para menino e rosa para menina, eu ia ser contra esses livros. Ou são todos rosas ou são todos azuis ou são todos amarelos ou são todos verdes ou então há livros de todas as cores do arco-íris e cada um escolhe a cor que gostar mais. Essa treta do azul ser para meninos e o rosa para meninas mete-me nojo. É uma coisa muito simples e básica mas é por aí que se começa bem cedo a diferenciação dos géneros. Começa-se por dizer às meninas que têm de usar rosa e facilmente se escala para ensinar-lhes que têm de casar e ter filhos e tratar da lida da casa. Ok, estou a exagerar, mas dá para perceber a ideia. Ainda há pouco tempo aconteceu uma situação que me lembrou disso. Estava em casa de uns amigos que têm um filho de 3 anos. O F. tinha um isqueiro rosa e estava com ele na mão. O miúdo perguntou-lhe, assim muito confiante: ‘esse isqueiro não é teu, pois não?’ Eu fiquei logo muito curiosa e perguntei-lhe porque é que ele achava que o isqueiro não era dele e ele respondeu que era porque era cor de rosa, que era de menina. Claro que eu lhe disse que não era assim. Que o facto de o isqueiro ser cor de rosa não implica que seja de menina. Que os meninos podem usar azul ou rosa e que as meninas também podem usar azul ou rosa, usam o que gostarem mais. Não me pareceu que ele tivesse ficado convencido. Isto porque já deve ter sido muito massacrado em todo o lado com esse cliché. É que nem que não sejam os pais em casa a ensinar essas coisas, é na escola, são os avós, os tios, os conhecidos, toda a gente massacra as crianças com esses clichés de género. E claro que depois é muito normal que cresçam a achar que quem usa cor de rosa são os gays. São coisas que à partida parecem inofensivas mas que se podem transformar facilmente em preconceitos mais tarde e criar limitações. Por isso, sim, sou contra os livros para meninos e para meninas da Porto Editora.

9 comentários:

N. disse...

Concordo na íntegra, mas... este assunto é tão "semana passada". Estás a reagir com delay, não? :)

Maat disse...

Estou? É? Semana passada não li notícias. Li essa ontem e pensei que era 'fresca'. Estive de férias, tens de me dar um desconto :)

N. disse...

Aqui entre nós, até é mais antiga que isso, mas dou-te 10% de desconto que é normalmente o que as lojas fazem em livros escolares. ;)

Maat disse...

ai, espera. a notícia dos livros é antiga, sim, mas eu estou a falar da notícia do fim da suspensão da venda. a editora fez um inquérito ou *cena interna burocrática qualquer* e concluiu que não valia a pena continuar com a suspensão depois do parecer da *entidade qualquer* que recomendou que os livros fossem retirados do mercado, por isso pôs os livros à venda de novo. percebeste alguma coisa desta resposta...? é tarde e tenho sono.

N. disse...

Ah, essa notícia não sabia. Já fiquei a aprender algo. Por mais incrível que pareça... percebi!
Vai dormir! :)

Cynthia disse...

Nem me manifestei sobre esse assunto, porque não me apetece chatear, mas sou absolutamente contra. Sou, em qualquer circunstância, contra esses estereótipos todos.

Maat disse...

ainda bem. mais uma para o lado do bem :) foram tantas as pessoas que vi a acharem isso tudo tão normal que pensei que eu é que era demasiado intransigente.

Cláudia S. Reis disse...

Igualdade de género é uma coisa com a qual batalho diariamente. Sou educadora e na minha sala não há brincadeiras de menino/menina. Há brincadeiras para crianças. Às vezes oiço algum dos pequenos a dizer "Mas isso é de menino/menina" e encontro aí o pretexto ideal para mostrar-lhes que não há diferença. Tenho meninas na sala que brincam com carros. E meninos que gostam mesmo é da casinha. E eu deixo-os ser livres. As crianças não nascem com preconceitos. São os adultos que os constroem!

Se eles tivessem feito livros apenas para diferentes idades compreendia. Agora separar meninos e meninas é, literalmente, de séculos passados!

Maat disse...

Exactamente Claudia, é preciso dissipar logo essas diferenças desde cedo. No meu tempo, nos anos 80, era compreensível. Hoje em dia não encontro lugar pra livros azuis e cor de rosa.